Filho, “eu sou o Senhor; sou eu dou conforto no dia da Tribulação”. (Na1,7)
Vem a mim, quando te achares aflito.
O que mais te impede de receber a consolação celeste é o recorreres tarde à oração.
Antes que ores com atenção, procuras consolar-te, recreando-te com divertimentos exteriores.
Daqui vem que tudo te aproveita pouco, até que conheças por experiência que “sou eu quem livra dos perigos os que esperam em mim” e que fora de mim não há auxílio eficaz, nem conselho proveitoso, nem remédio durável (Sl 16,7)
Mas agora que recobraste alento depois da tempestade, anima-te com a luz de minhas misericórdias; porque perto estou de ti (diz o Senhor) para te restabelecer na tua primeira paz e encher-te de novas e abundantes graças.
“Há porventura coisa que me seja dificultosa?” Acaso sou eu semelhante aos que prometem e não cumprem? (Jer 32, 27)
Onde está a tua fé? Tem firmeza e perseverança.
Sê varão forte, magnânimo, e a seu tempo te virá a consolação.
Espera, espera um pouco: “Eu virei consolar-te” (Mt 7, 7)
Tentação é o que te atormenta e vão temor o que te assusta.
Que ganhas atormentando o espírito sobre futuros incertos, senão acrescentar tristezas a tristezas? “A cada dia basta o seu mal” (Mt 6, 34)
É pensamento vão e inútil ir buscar motivos de tristezas ou de alegrias no futuro que talvez não acontecerá nunca.
Porém, é próprio da humana fraqueza deixar-se possuir dessas falsas imaginações; e também é sinal de pouco ânimo ceder o homem tão facilmente às sugestões do inimigo.
Pouco lhe importa ao demônio que os pensamentos que propõe à alma sejam ou não verdadeiros, contanto que sirvam para enganá-la. Para ele é indiferente enchê-la dum vão amor dos bens presentes ou duma vã apreensão dos males futuros. O que pretende é perdê-la por um destes caminhos.
“Não se perturbe pois nem tema o teu coração”; crê em mim e tem confiança em minha misericórdia. (Jo 24,27)
Quando pensas que estás longe de mim, então de ordinário estou mais perto de ti.
Quando te parece que a tua perda é quase inevitável então muitas vezes é ocasião de adquirires maiores merecimentos.
Não imagines que tudo está perdido quando te acontece alguma coisa contrária.
Não deves julgar do teu estado pela inquietação presente em que te achas, nem entregar-te à aflição, seja qual for a causa dela, nem perder alento como se não houvesse esperança de remédio.
Não te julgues inteiramente desamparado do meu socorro, ainda que te envie de tempos a tempos alguma tribulação, ou te prive da consolação desejada; porque é este o caminho por onde se vai ao reino dos Céus.
E sem dúvida te convém mais a ti, e aos demais servos meus, serdes exercitados nas adversidades do que suceder-vos tudo segundo vossos desejos.
Eu conheço o segredo de teu coração e sei que convém muito à tua salvação que algumas vezes te deixe desconsolado; para que te não ensoberbeças nos sucessos prósperos e queiras comprazer-te em ti mesmo, como se fosses o que não és.
O que eu te dei posso tirar-te e tornar-te a dar quando me aprouver.
O que te dou é sempre meu: quando tirar, não tomo coisa tua, pois “minha é qualquer dádiva excelente e todo o dom perfeito”.
Se te enviar alguma pena ou contradição, não te entristeças, nem desfaleça teu coração. Bem depressa posso aliviar-te e mudar em alegria tudo o que te aflige.
E quando assim uso contigo, sou justo e digno de ser louvado.
Se julgares das coisas segundo a sabedoria e verdade, não te deves afligir nem desanimar-te com os trabalhos, mas antes alegrar-te e dar-me por eles graças.
E até deve ser tua única alegria “que eu te fira sem poupar-te” (Jo6, 10)
“Assim como meu Pai me amou, também eu vos amo a vós”, disse eu a meus discípulos quando os enviei, não para gozar das alegrias do mundo, mas para sustentar grandes combates; não para possuir honras, senão para sofrer ignomínias; não para viver na ociosidade, mas no trabalho; não para descansar, mas sim “para produzirem grandes frutos de paciência e caridade”. Lembra-te, filho meu, destas palavras. (Jo 15,9, 16; Lc 18, 55).
(Texto tirado do livro Imitação de Cristo)
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